Se você pedir a um cidadão comum para pensar nos dois
extremos do espectro político, são grandes as chances de que ele irá
imediatamente visualizar, de um lado, a suástica e, do outro, a foice e o
martelo.
Independentemente de quais sejam suas visões acerca do
paradigma esquerda-direita, ou mesmo se ele acredita na teoria da
ferradura, este indivíduo (corretamente) irá pensar no fascismo e no comunismo
como sendo as duas ideologias típicas dos extremos.
No entanto, e curiosamente, a rejeição a ambos os símbolos
não é a mesma.
Ao verem a suástica, as pessoas imediatamente são remetidas aos
horrores do regime nazista, com suas perseguições étnicas e seus homicídios
sistematizados, e corretamente sentem uma total repulsa. Em vários países
europeus, com efeito, ostentar publicamente uma suástica é crime. Dado que os
nazistas foram responsáveis pela chacina de cerca de 20 milhões de pessoas,
todos nós entendemos quão abominável é esta ideologia e corretamente a tratamos
com desrespeito e repugnância.
Porém, como estas mesmas pessoas reagem ao símbolo da foice
e do martelo? Em várias ocasiões, há aceitação. Na maioria das vezes, há apenas
indiferença. O que leva à inevitável pergunta: por que a ideologia responsável
diretamente por centenas de milhões de mortes não recebe o mesmo tratamento que
a ideologia nazista?
Um histórico vermelho de sangue
Os atos inomináveis de Adolf Hitler empalidecem em
comparação aos horrores cometidos pelos comunistas na antiga URSS, na República
Popular da China e no Camboja, apenas para ficar entre os principais.
Entre 1917 e 1987, Vladimir Lênin, Josef Stalin e
seus sucessores assassinaram 62 milhões de pessoas do seu próprio povo. O
ponto de partida foi a Ucrânia, onde, de acordo com o historiador
Robert Conquest, o regime comunista foi o responsável direto por 14,5 milhões
de mortes.
Já entre 1949 e 1987, o comunismo da China, liderado
por Mao Tsé-Tung e seus sucessores, assassinou ou de alguma maneira
foi o responsável pela morte de 76 milhões de chineses (há historiadores que
dizem que o número total pode ser de 100 milhões ou mais. Somente durante
o Grande Salto para Frente, de 1959 a 1961, o número de mortos varia
entre 20 milhões e 75 milhões. No período anterior foi de 20 milhões. No
período posterior, dezenas de milhões a mais.)
O próprio Mao Tsé-Tung famosamente se gaba de ter "enterrado
vivos 46.000 intelectuais", o que significa que ele os enviou para campos
de concentração, onde ficariam calados e morreriam de fome.
No Camboja, o Khmer Vermelho exterminou
aproximadamente 3 milhões de cambojanos, em uma população de 8 milhões.
Este radical movimento comunista comandado por Pol Pot chegou ao
ponto de ter como alvo qualquer pessoa que usasse óculos. Crianças
eram assassinadas a baionetas.
No total, os regimes marxistas assassinaram
aproximadamente 110 milhões de pessoas de 1917 a 1987. Destes, quase 55
milhões de pessoas morreram em vários surtos de inanição e epidemias provocadas
por marxistas — dentre estas, mais de 10 milhões foram intencionalmente
esfaimadas até a morte, e o resto morreu como consequência não-premeditada da
coletivização e das políticas agrícolas marxistas.
Para se ter uma perspectiva deste número de vidas humanas
exterminadas, vale observar que as duas grandes guerras mundiais do século XX,
mais as Guerras da Coréia e do Vietnã, mataram aproximadamente 85 milhões
de civis. Ou seja, quando marxistas controlam estados, o marxismo é mais letal
que as principais guerras do século XX combinadas.
Os aliados
Ou seja, não é exatamente por falta de conhecimento. Afinal,
assim como o Holocausto, os gulags da União Soviética, o Holodomor, os campos
de extermínio do Camboja e a Revolução Cultural da China também são bastante
conhecidos.
E, ainda assim, vários intelectuais, jornalistas e membros
do meio acadêmico seguem orgulhosamente defendendo — e até mesmo fomentando
abertamente — idéias comunistas. No Reino Unido, há jornalistas que abertamente
apóiam o comunismo. Estátuas de Karl Marx foram erigidas por ocasião
de seu 200º aniversário. Mesmo nos EUA, que sempre foi um dos países mais
anti-comunistas da história, há hoje uma estátua de Vladimir Lênin na
cidade de Seattle.
Tornou-se aceitável em quase todos os países do mundo (exceto
na Polônia, na Geórgia, na Hungria, na Letônia, na Lituânia, na Moldávia e na
Ucrânia) marchar sob a bandeira vermelha da ex-URSS, estampada com a foice e o
martelo.
Para completar, Mao Tse-Tung é amplamente admirado por acadêmicos
e esquerdistas de vários países, os quais cantam louvores a Mao enquanto leem
seu livrinho vermelho, "Citações do Presidente Mao Tse-Tung".
[N. do E.: no Brasil, o PCdoB, que recentemente disputou a
presidência da república como vice na chapa do PT, é historicamente
maoísta].
Seja na comunidade acadêmica, na elite midiática, na elite
cultural e artística, em militantes de partidos políticos, em agremiações
estudantis, em movimentos ambientalistas etc., o fato é que há uma grande
tolerância para com as ideias comunistas/socialistas — um sistema (de governo)
que causou mais mortes e miséria humana do que todos os outros sistemas
combinados.
Logo, por que exatamente duas ideologias igualmente odiosas
e violentas são tratadas de maneiras tão explicitamente distintas?
"O comunismo real nunca foi tentado!"
A resposta pode estar no erro de percepção das virtudes.
Os nazistas, corretamente, são vistos como odiosos e
malignos porque toda a sua ideologia é construída em torno da ideia de que um
grupo é superior a todos os outros. Trata-se de uma ideologia inerentemente
supremacista e anti-indivíduo, uma violenta crença que foi colocada em prática
apenas uma vez por aqueles que a conceberam.
Sendo assim, simplesmente não há uma maneira justificável e
aceitável para um fascista argumentar que "Ah, mas aquilo não era o
nazismo verdadeiro...".
Já o mesmo, aparentemente, não vale para o comunismo. Ao
contrário, vemos esse argumento a todo o momento. Aqueles na extrema-esquerda
possuem um enorme guarda-chuvas sob o qual se abrigam todos os tipos de estilos
comunistas: do stalinismo ao anarco-sindicalismo, passando pelo maoísmo,
trotskismo, marxismo clássico ou mesmo pelo socialismo light.
E, dado que Karl Marx nunca implantou ele próprio suas
ideias, os líderes dos regimes comunistas sempre usufruíram uma espécie de
indulto para praticar suas atrocidades: quaisquer tragédias, descalabros ou
crises criadas por regimes comunistas sempre podem ser atribuídas a um
"erro" nas aplicações das idéias de Marx, as quais continuam sendo
vistas como um mapa infalível para a utopia.
Convenientemente, os defensores desta idelogia sempre têm um
passe livre para se descolarem completamente dos horrores do passado. Eles, até
hoje, continuam se apresentando como pioneiros e desbravadores de uma ideologia
humanitária que simplesmente ainda não teve a oportunidade de desabrochar por
completo. "O comunismo de verdade nunca foi tentado!", gritam eles
após cada novo fracasso do comunismo.
Agindo desta maneira, os defensores do comunismo podem, após
cada novo fracasso, continuar impavidamente se apresentando como humanitários.
Eles estão apenas lutando pela libertação da classe proletária e pela criação
de um paraíso dos trabalhadores, arranjo este que nada tem a ver com os
fracassos e falsos profetas anteriores. A atual geração de comunistas sempre
será aquela que, agora sim, irá implantar o comunismo real, e não as
deturpações que foram tentadas antes.
Na pior das hipóteses, tais pessoas são vistas apenas como
seres ingênuos, mas ainda assim muito bem-intencionados.
Onde estabelecer os limites?
Este é o cerne da questão. Ao passo que o nazismo sempre
esteve intrinsecamente ligado aos crimes de seus adeptos, o comunismo sempre
conseguiu se distanciar de suas tragédias. Ninguém toleraria a presença de uma
camiseta estampada com Adolf Hitler ou Benito Mussolini, mas a foto do maníaco
homicida Che Guevara em camisetas e smartphones é amplamente vista como um
símbolo de descolamento e de uma pueril ideia de rebeldia juvenil.
Logo, como estabelecer os limites? A ideologia comunista, em
sua forma mais pura, sempre consegue se distanciar de suas efetivas
implantações, mas a partir de que ponto seu tenebroso histórico irá conseguir
desacreditar quaisquer novas tentativas de se implantá-la?
Como disse o economista Murray Rothbard: "Não
é nenhum crime ser ignorante em economia, a qual, afinal, é uma disciplina
específica e considerada pela maioria das pessoas uma "ciência
lúgubre". Porém, é algo totalmente irresponsável vociferar opiniões estridentes
sobre assuntos econômicos quando se está nesse estado de
ignorância."
Temos de dizer o mesmo sobre o comunismo. Continuar
defendendo idéias e bandeiras comunistas não obstante o pavoroso histórico
desta ideologia não é uma postura nem ingênua e nem muito menos
bem-intencionada. A história do comunismo é tão sanguinolenta quanto a do
nazismo; aliás, é muito mais sanguinolenta.
É hora de dispensarmos a seus símbolos e a seus defensores o
mesmo trato que já dispensamos aos nazistas.
De resto, um lembrete aos esquerdistas, progressistas e
socialistas de hoje que se arrepiam com a simples sugestão de que sua agenda
pouco difere da dos maníacos nazistas, soviéticos e maoístas: não é necessário
defender campos de concentração ou conquistas territoriais para ser um tirano.
O único requisito necessário é acreditar na primazia do estado sobre os
direitos individuais.
Fonte: site Mises
Comentários
Postar um comentário