O relógio marcava
18h05. O pastor batista Martin Luther King Jr. conversava na sacada
de um hotel. Ativista em prol dos direitos civis e da igualdade
racial, Luther King tinha um sonho: "que minhas quatro pequenas
crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão
julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter."
Do quarto de um hotel no outro lado da rua, James Earl Ray tinha um
rifle. Ao disparar, ceifou a vida do líder do movimento negro
pacifista nos Estados Unidos. O dia era 04 de abril de 1968.
O historiador da
Universidade de Yale James Green - especializado em movimentos
sociais da década de 1960 - afirma, em um artigo: "O
assassinato de Martin Luther King foi um colapso terrível. Ele era
um homem carismático, indiscutivelmente um dos líderes mais
radicais que vimos no século 20. A desilusão que se seguiu a sua
morte causou danos incalculáveis às esperanças que aquela geração
tinha de ver tempos melhores”. E a história revela que, com a
morte de King, os ideais de não-confronto caíram por terra. Muitas
manifestações aconteceram e o grupo rebelde Panteras Negras
intensificou os confrontos.
Hoje, exatos 50 anos
após este episódio, o exemplo de Luther King permanece vivo. As
ebulições sociais que predominavam em 1968 transformaram a cultura
e a sociedade ocidental. Os conflitos, as rupturas, as covenções
desafiadas. O mundo estava grávido de mudanças. E a voz do
reverendo Martin Luther King Jr. era um apelo à justiça e ao amor.
Foi uma inspiração para aquela geração. Um homem do qual o
planeta sentiria falta se não tivesse existido.
No livro 'Variações
sobre a Vida e a Morte', o escritor Rubem Alves faz uma belíssima
reflexão sobre a forma de encontrar caminhos para a construção do
futuro. Ele cita que os antigos costumavam sacrificar animais e
consultar-lhes as entranhas para prognosticar o devir. Chama a
atenção o fato de as entranhas serem símbolo do amor, não do
entendimento – que seria a cabeça. Para o autor, tal alegoria é
cheia de grande verdade. E ele recomenda: “Se quereis profetizar os
futuros, consultai as entranhas dos homens sacrificados: consultem-se
as entranha dos que se sacrificaram e dos que se sacrificam; e o que
elas disserem, isto se tenha por profecia”.
É
necessário que vislumbremos as entranhas de seres elevados, como o
pastor. Que não ouçamos as vozes daqueles que se locupletam com o
ódio e a injustiça – eles são tão pequenos que sobem nas costas
de multidões esquálidas para se sentirem grandes. Que possamos
ouvir os ecos de um dos discursos de Luther King até vislumbrá-los
como realidade encarnada em nossa existência: “Com esta fé nós
poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em
uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos
trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar
juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia
livre”.
Jénerson Alves é jornalista
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